Uma vez eu tive uma experiência (quase traumática) como professor. Foi durante o mestrado que fiz na UFPE e tive que assumir uma cadeira da minha orientadora para marmanjos e marmanjas da graduação de jornalismo de lá. Cadeira de radiojornalismo. Uma temática que eu dominava razoavelmente e tinha experiência profissional. Acho que tinha quase 30 alunos matriculados porque essa disciplina é obrigatória no currículo do curso.
Do grupo discente, apenas uns 20% estavam realmente interessados nos conteúdos queu passava horas preparando em casa para levar para a escola. No final do período eu caí na besteira de montar grupos para realização do trabalho final. O que ocorreu? Os caras que não estavam nem aí com os estudos se juntaram aos CDFs da turma, tentando melhorar as notas.
Eu fiquei puto com a manobra coletiva e presenteei quase todos (e todas) com um belo SETE! Os aplicadinhos vieram chorar comigo. "Mas professor, eu nunca havia tirado um 7 até agora. Essa nota é injusta!" Bla bla bla. Eu passei o pepino para a titular da cadeira e sai fora.
Esse estágio me fez entender melhor como pode ser difícil dar aulas, ensinar. Paulo Freire achava que ninguém ensina a ninguém e que o aprendizado é algo absolutamente autônomo. Ser professor não é somente indicar conteúdos! Ensinar truques e fórmulas. Ensinar, fundamentalmente, seria você conseguir fazer com que teus alunos aprendam a aprender.
Agora, nessa pandemia, que nos obrigou a ter aulas em casa, pelo computador, tenho assistido com meus filhos menores, o exercício diário desse sacerdócio, nas classes do ensino primário e secundário.
Acho que, o mais complicado, é o equilíbrio entre manter a autoridade na sala de aula e, por outro lado, conquistar o alunado para aquela "apresentação" diária. Porque, sim, ser professor é atuar num set diferenciado a cada dia.
Prender a atenção, geralmente dispersa, de todos da turma. Imagina agora que não há mais o olho-no-olho e que, as presenças foram todas pulverizadas em minitelinhas numa telinha.
A própria ideia de "classe" e de turma é algo moderno, porque, na antiguidade, os mestres atendiam os aprendizes quase que individualmente, com bastante exclusividade.
As nossas aulas seriadas de hoje carecem duma relação mais sintonizada entre quem ensina e os que aprendem. Educação em massa. Teleaulas. Aula-espetáculo. Superaulões. Vivemos um tempo da pedagogia-negócio. Do educandário-empresa.
E o professor perdeu a maestria respeitável para ser colocado na condição de "colaborador" num negócio escolar. Um facilitador de canudos e de concursos. Eu nunca mais pisei numa cátedra!
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