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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

POLO DE PESQUISA COMUNICACIONAL SE CONSOLIDA EM CAMPINA GRANDE


POLO DE PESQUISA COMUNICACIONAL SE CONSOLIDA EM CAMPINA GRANDE
por Dalmo Oliveira



Na semana passada, um importante evento na área da comunicação agitou a cidade de Campina Grande. O seminário História da Mídia Regional colocou em pauta temas relevantes sobre o desenvolvimento da imprensa na região nas últimas décadas. O evento mostrou claramente que se consolidou na cidade um grupo interessado em promover a pesquisa com foco dirigido para a regionalização da produção e do pensamento comunicacional paraibanos.

O grupo tem a liderança do professor Luiz Custódio da Silva, hoje a mais antiga referência no ensino e na pesquisa em Comunicação do estado. Foi ele que, em pleno período junino deste ano, também capitaneou a realização de um seminário sobre Folkcomunicação, trazendo para a rainha da Borborema jovens pesquisadores de todo Brasil para discutir questões relativas a essa teoria, tencionando-a com a midiatização dos festejos juninos na região.

Para o seminário da semana passada destacou-se a presença da professora Ana Maria Fadul (ex-USP), atualmente lecionando na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp de São Bernardo dos Campos). No painel que discutia o panorama das teorias da comunicação para a questão da produção regional, Fadul teceu uma crítica contundente aos pesquisadores que, por exemplo, ainda insistem em utilizar as conceituações de "indústria cultural", propostas pela famosa Escola de Frankfurt. Ela alerta que essas referências são usadas sem os cuidados indispensáveis de contextualização.

Fadul reclama ainda de um certo negativismo dos frankfurtianos. Umberto Eco já os batizara de "apocalípticos" em oposição ao pensamento dos "integrados" . O fato é que, para a pesquisadora paulista, o conceito de indústria cultural e, consequentemente, de "comunicação de massa", já não resolve os paradigmas surgidos recentemente, inclusive dentro da pesquisa em comunicação regional.

Os processos de globalização da comunicação, a mundialização da economia, o surgimento das novas ferramentas de informação e de comunicação forçam os pesquisadores da área a buscar novas abordagens teóricas que possam dar conta às questões para além mercado. A crítica marxista ao capitalismo e o niilismo da organização social tornaram-se apenas etapas iniciais (e superadas) de uma avaliação muito mais complexa dos fenômenos comunicacionais surgidos recentemente.

Para Ana Maria as percepções sobre o fenômeno do "glocal" têm muito mais pertinência metodológica que as linhas de pesquisa anteriores e "datadas", na terminologia da pesquisadora. Demonizar o mercado e o modelo capitalista, para ela, não surte mais os impactos que causavam tremores há algumas décadas. É preciso entender, fundamentalmente , as imbricações entre a cultura local e a produção mundial de bens culturais. Local e global se fundem e se confundem alimentados pela comunicação midiática, pelas redes cibernéticas, pelos vínculos online etc.

Por outro lado, a influência das culturas locais no mercado mundial de informação e na cultura global é inegável. Assim como estão cada vez mais escassos os refúgios locais para as manifestações culturais, em decorrência da centralidade da comunicação na vida planetária. É o que Stuart Hall (2003) vai definir como “multiculturalismo comercial”, quando preconiza que “(...) a diversidade dos indivíduos de distintas comunidades for publicamente reconhecida, então os problemas de diferenças cultural serão resolvidos (e dissolvidos) no consumo privado, sem qualquer necessidade de redistribuição do poder e dos recursos”.

Os estudos sobre a mídia regional ou sobre os processos de regionalização da mídia e da cultura tendem a se transformar na principal linha de investigação do programa de pós-graduação em comunicação da UEPB, sob a batuta do Dr. Custódio. Com pólos acadêmicos na UEPB, UFCG e noutros centros de pesquisa de Campina Grande, em curto período ele poderá montar o corpo de professores-investigadores para iniciar as pesquisas num já anunciado curso de mestrado.

Demanda há suficientemente para se justificar a implantação da pós-graduação nessa área do conhecimento na segunda cidade mais importante da Paraíba. O que talvez ainda falte à Campina (e à Paraíba), de modo geral, é a sensibilidade de produtores culturais, profissionais de mídia e outros agentes comunicacionais, para o investimento em ações e reflexões sobre o fazer cultural/comunicacional regional. Um exemplo desse desinteresse pode ser notado durante a realização do próprio seminário da semana passada. Com o apoio institucional dos Diários Associados, o evento foi literalmente boicotado pelas demais empresas de comunicação que atuam na cidade (com exceção da TV Itararé/TV Cultura). Mesmo na mesa-redonda que discutiu o surgimento da Rede Globo na região, não se viu representantes dela no evento, tampouco cobertura jornalística da afiliada TV Paraíba.

É com esse tipo de dificuldade que Luiz Custódio e seus colaboradores poderão se deparar nos passos vindouros para a consolidação de um núcleo permanente de pesquisa comunicacional regional. Nada porém que arrefeça o espírito empreendedor desse intelectual que tanto já contribuiu para o desenvolvimento acadêmico da comunicação em terras tabajaras.

Um comentário:

Unknown disse...

O professor Custódio nos escreve a seguinte mensagem:
"olá Dalmo
Somente hoje tive tempo de ler o seu artigo. Não posso esconder a minha satisfação por saber que tem cabeças pensantes que estão observando e reconhecendo o esforço que vem sendo feito para a construção de um grupo de pesquisadores que cuidará da implantação de um mestrado na UEPB na área de comunicação. Não é uma questão de vaidade pessoal, vc sabe disso pois conhece meu trabalho desde a UFPB. Entendo que sou um servidor público e tenho compromisso e responsabilidade com o que faço. Agradeço o seu reconhecimento e vamos lutar para que uma nova geração venha participar cada vez mais dessa tarefa em defesa da pesquisa em comunicação no contexto estadual,local, regional.
Abraços
Custódio"