por Dalmo Oliveira

Criminalmente,
o jornalista já foi condenado a sete meses e 16 dias de prisão e, na parte
cível, lhes foi imputada uma multa de R$ 30 mil. Góes esteve no Recife na
semana passada onde falou do caso na mesa de abertura do Encontro Nordestino de
Direito à Comunicação, que reuniu cerca de 300 ativistas da região que militam
pela democratização dos meios de comunicação. Realizado pelo Fórum Nacional
pela Democratização da Comunicação (FNDC) e pelo Centro de Cultura Luiz Freire,
o evento ocorreu na Universidade Católica de Pernambuco, no bairro de Boa
Vista.
Depois
da palestra, Cristian Góes falou com exclusividade para o Direto do Sanhauá. Veja
a seguir o resumo da nossa conversa:
Para
o jornalista, que já foi presidente do sindicato de sua categoria em Sergipe, o
sistema judiciário brasileiro se configura, nos dias atuais, como o principal
aparelho de censura à imprensa. Ele também diz que o debate sobre a liberdade
de expressão e o direito à comunicação é um tema “interditado” na atual
sociedade brasileira.
Góes
diz que seu processo foi uma demonstração clara desse tipo de censura, e que
sua punição funciona como uma espécie de repressão pedagógica para outros
jornalistas que ousem criticar alguns setores dos poderes públicos constituídos,
especialmente o próprio poder judiciário: “O processo contra um jornalista ele é
diferente de um processo contra qualquer outra pessoa. Você processa um
professor, terá repercussão na vida do professor, as pessoas vão ficar sabendo.
Mas quando você processa o jornalista por conta do exercício profissional, terá
grande reflexo na sociedade, de impedimento dos outros jornalistas. Porque ele
tem um efeito pedagógico profundo. No meu caso, por exemplo, você pode
descobrir qualquer escândalo sobre o Tribunal de Justiça lá em Sergipe e você
não vai ter nenhuma matéria sobre esse caso, porque o efeito das minhas
condenações tem um efeito pedagógico”.
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Cristian Góes: Judiciário é o novo aparelho de censura | Fotos: Dalmo Oliveira |
Crimes de imprensa
Cristian
Góes diferencia os processos acionados contra jornalistas que cometem injúrias
e difamações e contra jornalistas que defendem os direitos sociais coletivos: “A
luta transformada em coletiva ajuda. Porque quando um jornalista é condenado,
muitas vezes justamente, por um crime de fato, ter feito alguma coisa
equivocada, errada etc, a gente não vê grandes mobilizações em sua defesa.
Porque as pessoas, os movimentos sabem o que é e o que não é. Eu acho que essa
capacidade coletiva é o que faz esse tipo de separação. Quero dizer que não sou
contra ações judiciais contra jornalistas: nós temos responsabilidades, claras,
objetivas. O que não pode é usar mecanismos judiciais de poder para inibir
noticias que comprometem o poder. Essa luta pela liberdade de expressão, pelo
direito à comunicação, tem duas questões: uma coisa é a liberdade de expressão,
outra coisa é a expressão. Ora, jamais um jornalista vai ser penalizado na
defesa pela vida, à liberdade, pelo direito à terra, pelo direito à saúde,
educação de qualidade, pelo respeito à Constituição, isso é o direito à
liberdade de expressão!... Mas um jornalista que se utiliza de uma retórica da
liberdade de expressão para estimular o crime, o ódio, o racismo, a
intolerância, esse vai ser penalizado, não pela liberdade de expressão, mas por
conta da expressão, porque a liberdade de expressão não se associa com ódio,
com racismo, com intolerância, a liberdade de expressão tem um outro patamar”.
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