fonte: http://www.sindjormt.org.br/2010/10/indicativo-de-greve-na-campanha.html |
O escândalo da relação para lá de
promíscua e antiética entre jornalistas paraibanos e a assessoria de comunicação
do gabinete do senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) revelado pela grande
mídia nacional essa semana é apenas uma pequena mostra do tipo de “jornalismo”
que se pratica na imprensa convencional da Paraíba.
Há muito tempo o noticiário dos veículos
de comunicação do estado está comprometido pela completa mercantilização da
pauta, tornando-o apenas mais um mercado onde quem dá mais ocupa mais espaço e
tem mais visibilidade midiática. A naturalização da chamada relisemania nas redações é um fenômeno
já antigo e tornou o jornalismo uma espécie de publicidade disfarçada. Uma
afronta ao consumidor de notícias e ao cidadão, que pensa estar comprando uma
informação produzida de forma isenta, mas, na verdade, está recebendo algo contrabandeado,
tendencioso, encomendado.
Durante o mestrado eu analisei
um pouco esse fenômeno, na perspectiva do jornalismo científico. Em grande
medida, o jornalismo praticado hoje na mídia convencional é refém do trabalho
das assessorias de imprensa, de comunicação e de relações públicas. Mas o que
mais chama atenção no serviço que os jornalistas contratados pelo senador
Vitalzinho é a completa inobservância ao empoeirado Código
de Ética dos jornalistas brasileiros.
Senão, vejamos o que diz o artigo 7º
desse código: “O jornalista não pode: (...) VI - realizar cobertura
jornalística para o meio de comunicação em que trabalha sobre organizações
públicas, privadas ou não-governamentais, da qual seja assessor, empregado,
prestador de serviço ou proprietário, nem utilizar o referido veículo para defender
os interesses dessas instituições ou de autoridades a elas relacionadas; (...)”.
Fica claro que os coleguinhas
flagrados prestando serviços ao senador nunca leram o Código de Ética da nossa
categoria, ou, se leram, esqueceram desse artigo.
Entre o final de 2007 e 2008, quando
eu disputei a presidência do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, fomos pedir
apoio a alguns deputados estaduais do campo da esquerda. Lembro-me vivamente o
que nos revelou o então deputado pelo PT, Jeová Campos, quando percebeu que
nossa chapa pretendia coibir a prática do “toco”. “Eu não aguento mais ser
assediado pelos teus colegas jornalistas e radialistas me pedindo dinheiro aqui
no gabinete, ou para falar bem do meu mandato ou para não falar mal”,
confidenciou o combativo parlamentar, que na última eleição não conseguiu votos
suficientes para a Câmara Federal.
Nesse sentido, a revelação que a FOLHA
fez, é algo “comum” dentro das principais redações paraibanas, mas no Correio essa prática é algo quase
institucionalizado. Ainda durante a campanha para a direção do sindicato nós
ouvimos relatos de arrepiar, como o que dava conta de que havia jornalistas em
Campina Grande que trocavam notinhas em suas colunas diárias até por botijão de
gás.
Quem assina o Correio percebe que as edições das segundas-feiras trazem sempre
várias páginas com notícias das prefeituras do interior. O jornal do ex-senador
Roberto Cavalcanti (PRB) também é craque em oferecer páginas inteiras para
instituições respeitadíssimas como OAB, Ministério Público e até para um pool de sindicatos de trabalhadores, com
a mesma naturalidade e desenvoltura que publica páginas das grandes
revendedoras automobilísticas instaladas na Paraíba.
Na prática, não haveria problema
ético algum se o material que os jornalistas publicassem como “notícia” fossem
devidamente identificados com um aviso para os leitores, telespectadores,
ouvintes e internautas, de informe
publicitário ou divulgação
institucional, como os próprios sindicatos de jornalistas recomendam nesses
casos. Para que todos saibam que aquele texto, aquela “reportagem” foi paga por
alguém para ser escrita e veiculada num modelo discursivo que imita os formatos
genuinamente jornalísticos.
Mas a denúncia da FOLHA também revela outro problema: a
utilização de terceiros para acessar verbas do Senado por um serviço não prestado
diretamente por esta pessoa. Um artifício tão antigo quanto a prática do “jabá”
pelos comunicadores.
Evidentemente, jornalistas que ganham
a vida tentando ser o mais ético e honesto possível, e a sociedade nacional,
que não aguentam mais ver esse tipo de coisa, querem saber o que o Sindicato
dos Jornalistas na Paraíba e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) têm a
dizer sobre o caso.
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