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terça-feira, 19 de julho de 2011

O novo já nasce velho*

Foto: Dalmo Oliveira
O diretor de Imprensa e Cultura do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba (SJPEPB), Rafael Freire, anunciou essa semana, através do Facebook, que é o candidato de consenso, dentro do grupo de apoiadores da atual gestão, ao cargo de presidente da entidade nas eleições marcadas para o dia 16 de setembro próximo. Eu já havia “adivinhado” o destino dessa figura num outro post aqui nesse blog.


Freire vem sendo “formado” pelo grupo que dirige nosso sindicato há quase 20 anos, praticamente, desde que botou os pés fora da faculdade (ou até antes). De todos os seguidores do atual presidente, ele parece ser o mais “radical”, mas é também um dos mais inexperientes quando o assunto é jornalismo no batente.

Radical, porque desde o movimento estudantil Freire vem sendo doutrinado por segmentos marxistas-lenilistas da esquerda mais extremista (e atrasada) do país. Seu perfil na internet diz o seguinte: “(...) responsável pelo periódico nacional A VERDADE, órgão da imprensa popular e socialista. Formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, do curso de Comunicação Social, por duas gestões (2004 e 2005).”

A ascensão de Rafael Freire ao posto máximo do SJPEPB confirma apenas uma coisa: o grupo de antigos sindicalistas, liderado por Land Seixas há quase duas décadas, cansou e está à beira da extinção política. Gente como Edson Verber, Lúcia Figueiredo, Marcos da Paz, Franco Ferreira e Luiz Conserva, que poderia herdar, naturalmente, o trono do ex-diagramador, foi preterida porque “o grupo” preferiu investir na “renovação”.

Novo de aparência e de idade, Freire, entretanto, é o último suspiro do que há de mais velho e ultrapassado no sindicalismo local. Engendrado num pós-marxismo gagá e enferrujado, o candidato da, até agora, chapa única (e eterna) carrega na sua bagagem as práticas políticas e sindicais mais autoritárias e reacionárias que se pode imaginar.

Ou alguém esqueceu da manipulação e dos conchavos que rolou na Conferência Estadual de Comunicação, cuja finalidade foi a montagem de um grupo de turistas e aproveitadores para participar da primeira Confecom, em dezembro de 2009, em Brasília? Agora responda, depois da Confecom, quais os encaminhamentos que essas pessoas deram em nível local? Que eventos realizaram para discutir, aqui na Paraíba, o que foi deliberado na histórica conferência?

Eu só espero que o “novo líder” dos jornalistas paraibanos tenha a mesma sagacidade e malícia para enfrentar os representantes do baronato da mídia local, nas mesas de negociação das próximas campanhas salariais. Espero que ele seja tão valente, arrogante e destemido com o patronato das empresas de comunicação como tem sido na hora de atacar e processar desafetos de sua própria categoria, como fez comigo recentemente nas audiências de uma ação que seu mentor moveu contra mim.

Da última eleição até hoje, quase nada mudou naquele sindicato. O autismo em relação aos anseios da categoria só se agravou. Afora algumas manifestações de rua contra Gilmar Mendes, por determinação da Fenaj, nada se viu de relevo para mobilizar a categoria.

O sindicato continua sem publicar algo próprio. O site institucional é um cemitério de letras e de idéias. A internet continua sendo uma esfinge enigmática para a maioria dos diretores. A comunicação com a categoria continua sendo direcionada, escassa e medíocre. No campo cultural é bom nem falar.

Também não se observou qualquer conquista nova no que se refere aos salários ou as condições de trabalho nas redações. Só a humilhante “reposição” do que a inflação comeu nos últimos meses. Por outro lado, as redações foram tomadas por estagiários e por profissionais exportados, principalmente do Recife. Inoperante e omisso, o sindicato assiste inerte o crescimento dos ataques da mídia local aos direitos humanos e às chamadas “minorias” sociais.

Por fim, a indicação de Freire para a presidência da entidade é o reflexo dos anos de comodismo a que essa categoria foi levada pelos atuais gestores. Futuro cinzento à vista!
 
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* Refrão de música da Banda O Rappa

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa sua publicação demonstra sua capacidade de articular idéias e posturas, digo isso, porque não se concebe uma JORNALISTA tão responsável quanto você, não conseguir sequer olhar para traz e ver os seus erros.

Se LAND ou qualquer grupo permanece no sindicato por 20 anos é culpa sua e dos que iguais a você que na qualidade de oposição não tem articulação sequer para montar uma chapa e debater com respeito, isso porque você mesmo já publicou uma NOTA DE RETRATAÇÃO nos principais jornais de circulação no Estado da Paraíba, onde reconheceu a "bobagem" que fez quando disparou mentiras contra o Land Seixas, ou será mentira o que estou dizendo.

E como você tem todo direito de disparar contra quem deseja, também tenho o direito de mostrar suas contradições.

Rafael Freire pode ter qualquer defeito, mais nenhum dele está ligado à corrupção ou desvios de conduta e, em relação às orientações políticas do Freire, também não se pode falar nada, uma vez que muito mais vergonhoso é ver tantos “camaradas” defender candidatos com posturas pouco higiênicas, enfim, que fazem na vida pública o que não podem fazer mesmo privada, Dalmo, qual o problema em ter atuado no movimento estudantil?
Qual problema em ser marxistas-lenilistas e de esquerda?

Agora me responda qual sua orientação política ?

Onde fez militância ? a não ser no movimento negro e mesmo assim com pouca produção ?

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você. “Friedrich Nietzsche”

Saudações.
Wilton Maia
Sindicato dos Urbanitários da Paraíba

Dalmo Oliveira Silva disse...

Bom dia Wilton Maia,
Obrigado pela leitura e comentário no blog.
Se você tivesse ao menos o cuidado de pesquisar sobre minha militância veria que no Movimento Negro eu estou atuando há apenas 3, 4 anos, apesar de já vir participando, de forma orgânica, não-institucional, desde meados da década dos 80's.
Respondendo: minha orientação ideológica é libertária! Você sabe o que isso significa? Veja no google...
O marxismo-lenilismo foi um engodo histórico para ludibriar os trabalhadores e hoje os herdeiros desse pensamento são apenas um arremedo risível das ideias originais de Marx, Lenin e Stálin.
A maneira como determinadas pessoas aparelham o ME e o CA de Comunicação Vladmir Herzog, do qual sou um dos fundadores, é o que critico. Essa prática de grupos "esquerdistas" é danosa e só serve como laboratório para a formação de militantes-profissionais dessas agremiações.
Sobre os processos judiciais que foram movidos contra mim, só expõem, ainda mais, a incapacidade desse grupo de receber críticas. Mentir é diferente de não provar a verdade! A minha retratação pública só ocorreu porque fui impedido de acessar as provas das minhas denúncias, mas, mais cedo ou mais tarde, toda a verdade voltará à tona, não tenha dúvida.
Esse grupo que vocês alimentam no SJPEPB está no poder há 20 anos não por incompetência da oposição, mas pelo comodismo de uma categoria que só sabe apontar para os problemas alheios e não enxerga a sujeira dentro de sua própria casa. Em 2008 NOVOS RUMOS mostrou que ainda existem laranjas sadias no cesto das frutas podres. Sabíamos das dificuldades em desmantelar um esquema tão pesado que domina NOSSO sindicato, mas enfrentamos com coragem e dignidade todas as barreiras. Estaremos vigilantes e na denúncia daqui pra frente, pode acreditar.
Dalmo Oliveira
jornalista filiado ao SJPEPB desde 1991

Anônimo disse...

Dalmo, obrigado pela brevidade na resposta.

Não irei responder sua inquietação sobre meus "libertários"

Discordo que o marxismo-leninismo tenha sido um engodo histórico, uma vez que A história da sociedade até aos hoje é a história da luta de classes, tanto é que realiza seu trabalho na qualidade de representante de uma classe (mesmo que na oposição)

Dalmo, toda sociedade ou fração social, escolhe seus caminhos, por outro lado , considero que diante da falta de organização dessa mesma sociedade as pessoas se consomem e faltando-lhe corpo consomem outros, enfim, louvo a capacidade daqueles que ousam lutar, uma vez que atender a quem te chama é belo, entretanto, lutar por quem te rejeita é quase chegar à perfeição.

Fica então o que um dia afirmou Friedrich Nietzsche “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”

Minhas respeitosas saudações.

Wilton Maia
Sindicato dos Urbanitários da Paraíba

Dalmo Oliveira Silva disse...

Eu que agradeço, Wilton, pela sua agilidade online!

Permita-me aprofundar minha visão um pouco mais sobre essa leitura da sociedade... Focar a complexidade histórica da aventura humana na Terra apenas pelo viés da "luta de classes" é reducionismo que os marxistas deveriam aprimorar. Eu prefiro, seguindo Z. Baumman, analisar a conjuntura e os últimos séculos pelo prisma de uma "sociedade de consumidores", já que o capitalismo prevalece, a despeito do empenho de comunistas e socialistas de todas as matizes.

Também não gosto da visão pessimista de Nietzsche. Prefiro o realismo do paraibano Augusto dos Anjos, que fala da necessidade sermos "feras" quando estamos em meio a elas. Quanto aos abismos, não tenho medo das alturas, mas acho o suicídio (mesmo o político e cognitivo) uma covardia!

Bom dia camarada.